Há um argumento contra o regime de metas de inflação que diz o seguinte: “o regime de metas de inflação não é eficiente para controlar a inflação. Mesmo com a credibilidade que o Banco Central adquiriu e não restando duvidas sobre o seu esforço para controlar a inflação, a meta de inflação só é alcançada com a utilização de altas taxas de juros”.
A base do argumento é simples. Mesmo que todos tenham a certeza de que o Banco Central fará de tudo para debelar a inflação, a credibilidade não é suficiente. O Banco Central precisa fazer uso de elevadas taxas de juros. Isto mostra a fragilidade do regime de metas de inflação.
Dois comentários sobre isto.
Primeiro. O regime de metas de inflação se apóia em regras claras conhecidas pela sociedade. Se o conhecimento destas regras pela sociedade não é suficiente para controlar a inflação sem fazer uso de altas de juros, a substituição do regime de metas de inflação por outro arranjo que não faça uso de regras claras ou não explicite compromisso com a estabilidade terá menor credibilidade ainda. Isto poderá ter efeitos negativos sobre a economia.
Segundo. A crítica mordaz sempre é direcionada à política monetária. Nada se diz sobre a política fiscal, a estrutura dos gastos públicos nem mesmo o superávit fiscal. Não questiona qual poderia ser o rumo da política monetária caso a política fiscal fosse diferente. Nem mesmo os efeitos da política fiscal sobre os juros ou o câmbio.
Mais uma vez é fácil atacar a política monetária que não baixa os juros e não interfere no câmbio, e condenar o capital financeiro. Mas estes mesmos se calam diante dos rumos da política fiscal.
Estes mesmos deveriam ler a entrevista do Samuel Pessoa ao Estadão. É necessário se desapegar de resultados de curto-prazo e parar de perseguir a meta equivocada do “Brasil-Potência”. Mas fazer isto não ganha eleição, seja para a situação ou para a oposição. Todos querem ser o grande redentor.