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Archive for novembro 2010

Uma economia simples

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Numa troca de email’s sobre economia, eu escrevi a seguinte estória para esclarecer os efeitos da inflação e da desvalorização cambial.

“Pense num país que é uma ilha e toda a produção da sua economia é derivada de um único produto:  o coco.
Os cocos e coqueiros fornecem fibras que são utilizadas para a confecção de roupas e placas que revestem casas e carros. E o coco fornece uma pastilha de carvão superativado que permite a construção de motores e processadores de computador. E uma culinária saborosa é feita a partir do coco.

Mas como ninguém conhece este país, não há turistas para conhecerem suas belas praias (e mesmo quem achou o país, enjoou de tanto comer coco). O país não recebe receitas vindas do turismo. A ilha é auto-suficiente, e por isto não importa e nem exporta nada. E a população tem um controle de natalidade curioso: o coco tem o efeito de prolongar a vida e fazer nascer uma nova criança na medida que outra pessoa morre. A população não cresce.

Fundada a nossa República, vamos pensar em situações que poderiam tirar a felicidade de nossos felizes amigos.

Se um dia, por causa de uma nova doença, o país precise comprar vacinas da França, como poderá pagar, se ele não exporta nada e nem recebe turistas?  Como obter dólares para pagar pelas vacinas. Se elas não forem doadas, como nosso país poderá comprá-las?A saída é fazer alguma exportação e obter as receitas. Mas se a produção interna é suficiente apenas para o consumo interno, como poderá exportar alguma coisa? O país terá de produzir além do consumo interno. Uma saída é um aumento da produtividade. Este ganho de produtividade pode vir de duas alternativas. A primeira é com investimentos que elevem a tecnologia da produção e permitam o aumento da produtividade do trabalho e do capital. Mas isto levaria tempo e as pessoas estão morrendo hoje.

A outra saída seria uma mágica que criaria este ganho de produtividade da noite para o dia. O que é um ganho de produtividade? Não é produzir mais com um custo menor? Então, como seria possível obter este ganho de produtividade? Os custos de produção industrial já estão dados, e seus preços se alteram com a dinâmica do mercado, onde eu posso atuar então? Você cria inflação! (Ou a mesma coisa: desvaloriza o câmbio!). Como assim? Você precisa criar um excedente exportável, mas a produção interna só dá conta do consumo interno. Então, a inflação tem o seguinte efeito: ela aos poucos vai reduzindo o valor real dos salários, já que o salário irá comprar cada vez menos. Mas como os produtos terão seus preços reajustados antes dos salários, o custo com os salários diminui. Ou seja, o  custo menor de salários provoca um “ganho”  produtividade.

Mas como este ganho de produtividade vira excedente exportável? Com o salário comprando cada vez menos devido à inflação, a população terá seu consumo reduzido. A diferença entre a produção total e consumo reduzido pela inflação é o excedente que poderá ser exportado. A população comprará menos devido à inflação, criando uma produção excedente que será exportado (supondo que o mundo queira comprar os produtos da ilha). Mas e se a ilha quisesse não sofrer inflação, como ela poderia ter o aumento de produtividade? Ela teria de fazer investimentos. E se  tudo se origina do coco, e a produção é apenas o suficiente para o consumo interno, eles precisariam que os cocos que vão para o consumo pessoal virem máquinas, ou seja, as pessoas precisariam consumir menos e poupar mais. A ilha precisa que os cocos destinados a fazer bens de consumo sejam destinadas à fabricação de máquinas e novas técnicas de produção.

Sem a poupança (redução no consumo do coco) não há liberação de coco que viabilizará o investimento. Aqui fica a seguinte questão: que mecanismos poderiam ser adotados para incentivar a poupança interna? E como fazer para atrair poupança externa?”. E um ponto importante que surgiu depois: a inflação e a desvalorização cambial tem um efeito perverso sobre a distribuição de renda e usurpa a poupança das famílias mais pobres.

Written by Rogerio Ferreira

01/11/2010 at 23:37